segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Onda...

             Meus queridos  

Trecho do filme "A Onda" (2008),
de Dennis Gansel.
            Ainda estamos marcados pelo debate do filme "A Onda" (2008) e pelas reflexões suscitadas pelo último estudo dirigido... Que aliás estão muito bons! Tão bacanas que gostaria de continuar nossa conversa, mas agora sem a pressão do tempo e a claustrofobia causada pelos muros do CEFET. rs Então, convido-os a continuar nossa conversa aqui. Agora sim, com toda a indicação de filmes e reportagens que falei em aula. 
  
            Em 1949, Hannah Arendt  afirmou “A derrota da Alemanha nazista pôs fim a um capítulo da história” (ARENDT, 1990, p.339). Segundo o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva (2008), os atos de violência praticados por grupos neonazistas na França e na Alemanha, no ano de 1991, desmentem as projeções de que os fascismos seriam movimentos aprisionados ao passado. Não precisamos ir tão longe, em abril de 2010, partidários do Movimento Nacional Socialista realizaram um protesto contra as recentes manifestações em favor de leis mais brandas e anistia de imigrantes ilegais, na cidade de Los Angeles. Empunhando bandeiras dos EUA com a suástica, gritavam palavras de ordem como “Sieg Hiel!” – Salve Vitória! - saudação usada pelos correligionários de Hitler (Ver reportagem aqui).  Em abril desse ano, grupos neonazistas brasileiros organizam protesto na Avenida Paulista em favor do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que proferiu uma série de comentários ofensivos direcionados aos negros e aos homossexuais (Relembre a polêmica). Essa série de protestos foram transformados em um documentário disponível neste site.
A Juventude Hitlerista
            O processo de globalização anda lado a lado com a necessidade de criação de laços identitários locais. Os indivíduos descentrados em uma cultura global buscam nos grupos o sentido de comunidade que foi perdido em um mundo que valoriza o indivíduo e não aceita a diferença. Esse processo não é recente. Intelectuais como Hobsbawm, Said e Arendt, por exemplo, irão perceber, por caminhos diferentes, a importância do Imperialismo como o gérmen de um novo mundo globalizado. E o historiador Francisco Carlos Teixeira (2008) perceberá na ascensão do nacional-socialismo na Alemanha a mesma necessidade de criar identidades a partir de vínculos comunitários. Segundo ele, o movimento nazista nega a herança de 1789, julgando-a responsável pela desagregação dos indivíduos - a origem de todos os males. A partir da criação de um passado ideal - o medieval, o totalitarismo alemão reforçaria a idéia de uma coesão nacional.

Propaganda a favor da eugenia (EUA).

A intolerância com a diferença também não é uma novidade dos últimos anos. A valorização do indivíduo acompanhou o surgimento de uma história universal e longe de serem incompatíveis, são lados diferentes de um mesmo processo iniciado com a Revolução Francesa, o da história como evolução da Humanidade. No início do século XX, a maioria dos países pesquisou formas de controlar e acelerar os desígnios da História, a eugenia tornou-se uma importante ferramenta, usada na Suécia, nos EUA, na URSS, na Alemanha e, inclusive, no Brasil. Debates sobre a validade das teorias de Lamarck e Mendel movimentaram os cientistas, médicos e intelectuais da época. O documentário "Homo Sapiens 1900", do diretor Peter Cohen, apresenta com êxito essas questões.
 

Propaganda Nazi. Segundo o regime de Hitler, em 60 anos a população alemã
passaria a ser constituída, por 80% de indivíduos “socialmente inferiores”.
Para o evitar, a solução passava por impedir que procriassem.

 Na modernidade, o Estado assumiu a função de um jardineiro, que tinha como tarefa separar as plantas úteis das ervas daninhas e cultivar as boas sementes, planejando seu crescimento (BAUMANN, 1998). O resultado traumático das políticas de planejamento social na Alemanha não precisa ser apresentado.

Holocausto: para não esquecer.
As sentenças canonizadas de que o nazismo dizia respeito ao passado e que o Holocausto estava vinculado exclusivamente à história judaica (BAUMANN, 1998; HUYSSEN, 2000) são colocadas em xeque. Pesquisas sobre a perseguição a outros segmentos marginalizados da sociedade renovam a discussão, distanciando-se de uma abordagem que entendia o Holocausto como uma patologia dirigida a um grupo especifico e confinada ao tempo e espaço. O Holocausto passa a ser visto como o reverso da sociedade moderna. A efervescência dos movimentos neonazistas, inclusive no Brasil, apontam que ainda estamos marcados pelas noções de civilização, progresso e evolução, que parecem persistir mesmo após o impacto da I e II Guerra e a Queda do Muro de Berlim.


Seguem abaixo, trechos do documentário "Homo Sapiens 1900", do diretor Peter Cohen. Ele estava naquela lista de filmes que levei para a votação, lembram?





  
Como falei nas últimas aulas, o filme "A Onda" (2008) basea-se na história do Prof. Burt Boss, que realiza uma experiência pedagógica bem arriscada em uma escola na Califórnia, nos EUA. A experiência do docente virou livro e ganhou duas versões audiovisuais: uma assistimos no auditório, ambientada na Alemanha nos dias de hoje; a outra, uma produção norte-americana do ano de 1981. (Leia mais aqui).  No Youtube, vocês podem assistir a versão do curta-metragem de 1981, dublada para o português. 




Referência bibliografica:
ARENDT, Hannah.  As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998.
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Os fascismos. In: FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão; ZENHA, Celeste. (Orgs.). O século XX. O tempo das crises: revoluções, fascismos e guerras. 4. ed. V. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.


Imagens sobre a eugenia disponíveis em: 

Por Isis Castro