quarta-feira, 7 de março de 2012

Amor Líquido: as frágeis relações construídas na internet.




Nev Schulmann
Neste sábado (09/03), retomaremos nossas sessões de cinema. O filme escolhido para a sessão de estreia é "Catfish" (2010). É difícil fazer uma sinopse deste documentário sem destruir seu encantamento, sendo assim só contarei o que levou dois jovens norte-americanos a produzi-lo.

O fotógrafo Nev Schulman, de 24 anos, conhece Abby Faccio, uma pintora de 9 anos de idade, via facebook. Ele desenvolve uma relação de amizade com a família da menina que se desenrola ao longo de nove meses de correspondências virtuais. Seus amigos resolvem fazer um documentário sobre essa relação virtual e assim começa a nascer  "Catfish". Durante essas conversas virtuais, Nev conhece Megan, a irmã mais velha de Abby e eles se apaixonam. Movido por essa paixão, o fotografo resolve viajar até o Mississípi para conhecer essa família tão talentosa e finalmente encontrar Megan. Bom, o resto só assistindo... 
Foto de Megan Faccio no Facebook.

Deixando de lado as discussões e os processos judiciais pondo em em xeque a veracidade do filme, eu gostei bastante. "Catfish" incita reflexões pertinentes sobre  nossa sociedade, lembrou-me um livro chamado "Amor Líquido", do sociólogo Zigmund Baumann. Nesta obra, assim como no filme, podemos refletir sobre a natureza das delicadas relações afetivas construídas por meio da internet e, muitas vezes, fora da rede. 


"A palavra “rede” sugere momentos nos quais 'se está em contato' intercalados por períodos de movimentação a esmo. Nela as conexões são estabelecidas e cortadas por escolha. (...) As conexões podem ser rompidas, e o são, muito antes que se comece a detestá-las. 
Elas são “relações virtuais”. Ao contrário dos relacionamentos antiquados (para não falar daqueles com 'compromisso' muito menos dos compromissos de longo prazo), elas parecem feitas sob medida para o líquido cenário da vida moderna, em que se espera e se deseja que as 'possibilidades românticas' (e não apenas românticas) surjam e desapareçam numa velocidade crescente e em volume cada vez maior, aniquilando-se mutuamente e tentando impor aos gritos a promessa de 'ser a mais satisfatória e a mais completa'. Diferentemente dos 'relacionamentos reais' é fácil entrar e sair dos 'relacionamentos virtuais'. Em comparação com a 'coisa autêntica', pesada, lenta e confusa, eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear. Entrevistado a respeito da crescente popularidade do namoro pela Internet, em detrimento dos bares para solteiros e das seções especializadas dos jornais e revistas, um jovem de 28 anos da Universidade de Bath apontou uma vantagem decisiva da relação eletrônica: 'Sempre se pode apertar a tecla de deletar'. " 
BAUMANN. Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p. 08.

Vale a pena assistir! E se resistir, não assista ao trailer, deixe "Catfish" conduzi-lo em uma "montanha russa emocional".