quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dossiê "Sinal Fechado" II

 

“Sinal Fechado”

Perseguição política e resistência poética.



Em 1980, a peça Calabar, um elogio à
traição foi liberada depois de ficar seis
anos proibida pelo Conselho Nacional
 de Censura.
             Em tempos de acirrada censura, os artistas utilizavam-se de inúmeros subterfúgios para romper o silêncio, o mais comum era o uso e o abuso de metáforas ou alegorias como ferramentas na composição de suas canções. Mesmo assim, na maioria das vezes bastava ser um “velho conhecido” da Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP) para ter seu trabalho vetado, como Geraldo Vandré, Sidney Miller e Sirlan. Esta era também a situação de Chico Buarque, que no ano de 1973 teve sua peça Calabar censurada e consequentemente as músicas do álbum que levaria o mesmo nome, lançando no seu lugar o LP Chico Canta.” Após esse episódio, percebeu que ficaria cada vez mais difícil gravar alguma música de sua autoria.
            Optou, no ano seguinte, por lançar o álbum “Sinal Fechado”, com músicas de outros compositores, com exceção de “Acorda Amor.” Essa atitude não significou que tivesse sucumbido à censura, ao contrário, tornou-se mais uma forma de demonstrar sua insatisfação como artista e cidadão brasileiro. Desde a capa até as músicas escolhidas, o álbum exalava indignação. Mesmo impedido de compor, Chico Buarque criou novas formas burlar a repressão e protestar. Uma das mais criativas foi a invenção do pseudônimo Julinho da Adelaide, para passar suas músicas pelos censores, em outros posts falaremos desse episódio.
Capa do albúm "Chico Canta"

O título escolhido para o álbum  já era um forte indício das intenções do artista, como muitos outros, comprometido com a denúncia à repressão. Outras faixas permitem entrever seu protesto, como Festa Imodesta” ou “Me Deixe Mudo”. De autoria de Caetano Veloso, a primeira composição prestava homenagem ao malandro e/ou ao compositor que através do bom humor, fala em um momento que se exige do brasileiro o “discurso sem voz”: “Vamos homenagear/Todo aquele que nos empresta sua testa/Construindo coisas pra se cantar” , ou ainda, “Viva aquele que se presta a esta ocupação/Salve o compositor popular”. De Walter Franco, a segunda música faz referência clara à censura, que podava o diálogo do artista com o mundo, silenciando-o. A  própria capa do álbum traz consigo uma força, uma garra. Um grito de resistência entoado através do ato (político) de cantar. Por esse conjunto de elementos, “Sinal Fechado” tornou-se um marco na luta contra o Regime Militar.

Capa do albúm "Sinal Fechado" (1974).